Panama Papers revela corrupção na Libertadores
A investigação, comandada pelo FBI, mostra como a competição era afetada pelo esquema de corrupção que envolve também dirigentes da CBF.
Evasão fiscal, propina a dirigentes, influência nos horários das partidas e até mesmo na escalação das equipes participantes da Copa Libertadores, o principal torneio de futebol de clubes da América do Sul. Isso é o que revela a operação conhecida como Panama Papers, que trata do vazamento de documentos confidenciais do escritório de advocacia Mossack Fonseca, do Panamá.
De acordo com informações do jornal Estadão, pelo menos 15 empresas (das quais cinco ainda desconhecidas) instaladas em paraísos fiscais controlavam o torneio e são responsáveis por esquemas de propina a dirigentes ligados à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol).
As empresas offshores, abertas nos chamados paraísos fiscais, onde se paga menos impostos que nos países de origem, estão registradas nas lhas Cayman, Ilhas Virgens Britânicas, Turks % Caicos e Chipre. Elas recebiam os pagamentos das redes de televisão pelos direitos de transmissão da competição esportiva.
Os documentos do Panama Papers mostram o envolvimento do ex-presidente da Conmebol, o paraguaio Nicolás Leoz, em casos de corrupção e lavagem de dinheiro. Em sua gestão, a entidade assinou um contrato que dava direitos exclusivos de transmissão e negociação à empresa T&T Sports Marketing, com registro nas Ilhas Cayman.
O valor, fixado em US$ 370 milhões (R$ 1,5 bilhão), era válido por um período de 15 anos. Entretanto, em 2015, o contrato foi rompido e herdado pela rede de comunicação norte-americana Fox, a qual também é investigada no escândalo das empresas offshore.
CBF envolvida no esquema
A investigação do Federal Bureau of Investigation (FBI), que faz parte do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, bateu também na porta da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Documentos revelam que os ex-presidentes da entidade, Ricardo Teixeira e José Maria Marin, e o atual, Marco Polo Del Nero, também foram beneficiados no esquema de subornos.
O brasileiro José Hawilla, dono da Traffic Group, maior empresa de marketing esportivo da América Latina,disse ao FBI que ganhar os contratos da CBF era algo fácil. Bastava pagar propina aos dirigentes.
Preso em Nova Iorque e esperando pelo julgamento que deve ocorrer em junho, Hawilla confessou ter pagado propinas por 20 anos a dirigentes da CBF. Ele é réu confesso e ainda deve colaborar, através da "delação premiada", para reduzir sua pena. A decisão pode ser vital para esclarecer todos os detalhes do esquema.
O executivo argentino naturalizado brasileiro, José Margulies, é considerado uma das pessoas mais importantes no esquema de pagamento de propinas a dirigentes da CBF. Segundo informações do FBI, ele fazia a gestão de todos os valores.
O que é a operação Panama Papers?
É uma compilação de 11,5 milhões de documentos confidenciais de autoria do grupo panamenho de advogados, Mossak Fonseca. Neles constam detalhes de operações em paraísos fiscais envolvendo empresas, políticos, governantes, familiares e colaboradores. São investigados casos de evasão fiscal, fraude e tráfico de drogas.
Os documentos foram revelados no dia 3 de abril pelo Consórcio Internacional de Jornalistas (ICIJ em inglês).
Leia mais: Panama Papers: o escândalo dos paraísos fiscais
Fotos (ordem de aparição): por Márcio Garoni e Clube Atlético Mineiro (Flickr)