Desobedecer leis é fácil para maioria de brasileiros

Uma recente pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas revela dados que serviriam para confirmar que o "jeitinho brasileiro" é de fato uma realidade.

17 FEV 2015 · Leitura: min.
Desobedecer leis é fácil para maioria de brasileiros

Há quem defina os brasileiros como um povo criativo, que sabe usar a intuição e improvisação para encontrar soluções aos diversos reveses da vida. É o famoso "jeitinho brasileiro", uma expressão bem conhecida por aqui. O termo também vale para um sentido mais pejorativo, quando se buscam maneiras de burlar normas ou recorrer a condutas de ética duvidosa.

Uma recente pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela dados que serviriam para confirmar que o "jeitinho brasileiro" é de fato uma realidade.

Segundo o estudo, 81% dos brasileiros concordam com a afirmação de que é fácil desobedecer as leis e, sempre que possível, optam por "dar um jeitinho" ao invés de seguir as regras.

O que está por trás desse comportamento?

Vale lembrar que esse dado pode estar relacionado - ao menos em parte, com a desconfiança dos brasileiros em relação as instituições públicas. O estudo da FGV também abordou a percepção da população em relação às autoridades e qual o nível de confiança nas instituições e nas leis. As conclusões são:

  • 32% da população confia no poder judiciário
  • 33% dão voto de confiança à Polícia.

Já em relação aos profissionais de direito, 44% dos entrevistados acreditam que advogados são honestos.

Um legado cultural

O levantamento ainda traz números que demonstram que parte da população acredita que a impunidade prevalece em nossa sociedade, uma vez que 57% dos entrevistados concordam que "existem poucas razões para uma pessoa seguir a lei no Brasil".

O documento publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública cita o historiador Mauricio Garcia-Villegas para explicar esse comportamento. Para ele, a "cultura de desrespeito à lei" é uma herança da colonização portuguesa, na qual se tinha uma percepção de que driblar as normas não era algo imoral ou "socialmente reprovável".

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Quanto maior escolaridade e renda, maiores as descrenças

As classes mais altas foram donas de uma porcentagem ainda maior frente o desrespeito às leis. O estudo aponta que 85% das pessoas com renda acima de oito salários mínimos acreditam que é fácil burlar as leis. No universo das pessoas com renda de até um salário mínimo, 69% concordam com a tal afirmação. A comparativa é similar ao focar pessoas de alta e baixa escolaridade.

Fatores como a idade e a etnia também sustentaram padrões de comportamento específicos. Os mais jovens concordam mais com a premissa de que "desobedecer as leis é fácil" do que os mais velhos. Da mesma forma, os brancos concordam mais que negros.

Por isso, uma das conclusões do levantamento é que uma pessoa tende a acreditar na facilidade de descumprir as leis quanto maior for o seu nível socioeconômico e menor a vulnerabilidade social.

Mas quais seriam os motivos deste evidente problema de legitimidade e falta de respeito às instituições de justiça e do Estado? E como podemos começar a mudar a percepção dos brasileiros em relação ao cumprimento das leis? As perguntas ficam em aberto e com uma única conclusão: todos os indicadores da pesquisa podem servir para uma boa reflexão.

Fotos (ordem de aparição): por Creative Commons (Wikipedia) e succo (Pixabay)

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